A Escola de Atenas
A Sala da Assinatura contém os frescos mais famosos de Raffaelo Sanzio de Urbino (1483-1520), que assinalam de forma singular o início dos trabalhos do grande artista no Vaticano e o começo do Renascimento. O ambiente assume o nome do mais importante tribunal da Santa Sé, “Segnatura Gratiae et Iustitiae”, presidido pelo Pontífice, que utilizou esta sala até meados do século XVI. Originariamente, a Sala havia sido convertida por Júlio II (Pontífice entre 1503 e 1513) em biblioteca privada; o programa iconográfico dos frescos, executado entre 1508 e 1511, destinava-se assim a esta função, tendo sido certamente estabelecido por um teólogo, que propôs a Rafael representar as quatro faculdades clássicas do espírito humano, dando mostras de um elevado grau de liberdade intelectual: a Verdade, o Racional, o Bem e o Belo.
A Verdade sobrenatural está ilustrada na Disputá do SS. Sacramento (ou teologia); Na parede directamente oposta, o Racional está representado na Escola de Atenas (ou a filosofia); o Bem está expresso na das Virtudes Cardinais e Teológicas da Lei e finalmente O Belo na Poesia, representado no Parnaso, com Apolo e as Musas.
A Escola de Atenas, cujo nome original Causarum Cognitio se manteve até ao século XVII, foi inspirada no projecto do grande arquitecto renascentista Donato di Angelo del Pasciuccio (1444-1514), conhecido como Bramante, para a renovação da Basílica de S. Pedro.
Na obra, que representa a verdade adquirida através da razão, duas figuras centrais retratam a essência dos pensadores da Antiguidade Clássica e, simultaneamente, o tempo deRafael: Platão aponta para o céu enquanto segura o seu livro Timeo, ladeado por Aristóteles com a Ética; Pitágoras é representado de lado, de modo a permitir observar a explicação dodiatessaron; Reclinado nos degraus da escada, Diógenes sugere a leitura; À sua frente, Eráclito, o filósofo pessimista com traços de Miguel Ângelo; À direita, Euclides ensina geometria, Zaratustra segura o Globo Celestial e Ptolomeu o Globo Terrestre, tendo por companhia o próprio Rafael.
Em lugar de a ilustração recorrer às figuras alegóricas, como era hábito nos séculos XIV e XV, convocando o olhar para o infinito, Rafael submete o espaço pictórico às leis do plano, revelando conhecimento da arquitetura dos banhos romanos, fazendo a síntese entre o pagão e o profano. Perante esta composição expansiva, o espectador quase se alheia do facto de o espaço ser mal iluminado.
Dispostas da esquerda para a direita, as solenes figuras de pensadores representam um verdadeiro debate filosófico: astronomia, geometria e aritmética são descritas de forma concreta, num imponente plano arquitectonicamente convergente para o eixo central do espaço abobadado.
Hypatia de Alexandria, a astrónoma e filósofa que os cristãos queimaram e arrastaram pela cidade, olha discretamente para o espectador; Uma hábil subversão de Rafael, tendo em conta que a obra está no Vaticano.
As figuras desta composição não se atropelam nem são sufocadas pelo aglomerado; sugerem movimento, numa celebração do pensamento clássico liberal, onde tudo é discutido e exercitado. A ironia reside na inserção de Sodoma e (da imitação) do próprio Rafael, numa apologética improvável à República de Platão e à própria filosofia.
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