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15 agosto, 2011

sobre as angústias da paixão...



O dia amanheceu triste e vazio. Claro que não foi o dia que amanheceu triste e vazio, para tantas pessoas naquele horário, em outros lugares, o dia amanhecia lindo, mas para ela o vazio interior reverberava no mundo inteiro, e não havia sol que iluminasse tal sentimento. Olhou o computador desligado ao lado da cama e, como sempre fazia, correu para ligá-lo, mas parou imediatamente ao lembrar que não havia mais motivo para tal correria...não fazia mais sentido por não haver vida ali dentro, vida que a alimentou por todos esses dias dos últimos meses, e que agora já não existia...Como o inseto monstruoso kafkiano sentiu-se pesada demais para se mover na cama, pernas curtas e coração idem...deixou-se ficar a olhar o teto, esperando algum milagre (que nesse mundo pós-modernos viria pelas ondas do celular) mas logo tomou-se de uma força maior e lançou-se para fora da cama, carregando sua tristeza escadas abaixo e vida acima...não conseguia pensar, evitava o confronto com as próprias idéias...o que queria ali era apenas estar enganada, ter a certeza que estava errada e que pedir desculpas bastaria para fazer o sol voltar a iluminar seu mundo...por um momento pensou que de alguma maneira já havia feito isso, e tudo o que recebeu em troca foi angustiante silêncio. Percebeu que nada mudaria por um motivo simples e completamente frustrante...reconhecia naquela situação, no outro, aquilo que ela mesma era, anos atrás. Percebeu que gostava no outro aquilo que fora um dia, impetuosidade e desespero, confronto e dedicação, paixão e medo...e soube que a única maneira de superar o problema seria esperar a ação do tempo, e que enquanto o tempo revelava no outro suas idiossincrasias insuportáveis, ela lembraria do quanto foi insuportável um dia e que agora reconhecia naquelas pessoas que passaram pela sua vida e que sofreram tanto por ela, uma dor maior que a que tinha percebido na época...como fora insuportável, como exigira tamanhos absurdos, como não percebera que suas palavras duras e atitudes idem aniquilavam o outro, não reconhecia neles suas necessidades de afeto mesmo quando estavam errados, mas ao mesmo tempo se perguntava o motivo pelo qual tais pessoas a amaram tanto, por tanto tempo lutaram para estar com ela, muitas vezes dizendo estar vivendo seus momentos mais felizes...não sei, não sei, responderia, mas no fundo talvez ela soubesse...apesar de toda essa exigência absurda de perfeição, ela amava. E sempre tão intensamente que fazia do outro esplendoroso amor, fazia surgir o melhor dos mundos possíveis quando os deitava em seu colo e acariciava seus cabelos por horas a fio, quando, atenta que era, antecipava sonhos e desejos e os realizava, quando fazia do outro altar de seus dias. A intensidade que angustiava ali era aliada, intenso ardor que a tudo superava, que fazia das horas minutos e que deixava sempre a sensação de se querer mais...só que agora, passado o tempo e com a maturidade alcançada, ela não conseguia mais viver desordenadamente, um dia sim, um dia não, um dia com, um dia sem...queria a sorte de um amor tranqüilo, mordido, de rotina para se tentar fugir dela, mas só um pouco, só às vezes, tão bom era viver sem medo, sem agruras, sem sofrimentos a toa, deitados na cama escolhendo o que assistir, interrompendo o assistido, reiniciando, renovando, refazendo, refazenda...Pensou que um dia ele perceberia tudo isso, mas isso seria só daqui há 10 anos, ou mais, e soube que a história tinha terminado, não passaria de vaga lembrança tantas vezes gravada e apagada na pós-modernidade que nos expõe e muitas vezes nos aniquila. A pós-modernidade havia-os reunido, a mesma pós-modernidade agora os separava...

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