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06 junho, 2010

sobre as decepções

Eu sempre odiei injustiça. Mesmo antes de saber o que a palavra significava eu já sentia que não gostaria dela, muito em função das enormes injustiças que minha mãe cometia comigo, não por maldade (demorei décadas para saber), mas por ignorância (como dizia Sócrates, só age mal quem não tem conhecimento).

Já errei muito na vida. Sempre fui impulsiva e sempre apanhei muito por ser diferente, por não ser diplomática, política, polida. Sou educada com quem é educado comigo, mas em alguns casos como sou tímida as pessoas acham que sou antipática; sou simpática com quem eu acho que vale a pena mas nunca pensei em ter que fazer qualquer coisa só para puxar o saco de quem quer que seja (não que não tenha tido que fazer isso, às vezes). Mudei de profissão para tentar acabar com isso com a inocência de ser livre...até perceber que em certas ocasiões não se pode falar o que se pensa. E meus erros me trouxeram muitas dores.

Por ser assim já falei mais do que devia, já fiz coisas que não devia, já magoei quem eu não devia e sofri muito com isso. Tem coisas erradas que fiz quando era criança e até hoje me sinto mal por elas, mesmo sabendo que a gravidade de tal ato era muito pequena. Já pedi desculpas verdadeiras, já esperei desculpas verdadeiras que nunca vieram, já abandonei pessoas por motivos pequenos mas aprendi a voltar atrás quando estava errada. Tenho 36 anos, quase 37. Não acredito em destino ou determinação, se tem algo em mim que é ruim eu vou lutar contra para tentar mudar. Odeio quem diz "ah, mas eu sou assim mesmo". Bom, faz parte do meu sangue italiano e da minha criação ser "assim mesmo", mas eu não concordo com isso e luto para ser diferente. Às vezes consigo, às vezes não, e sei que isso faz parte da vida e do meu crescimento.

Algumas coisas me magoaram muito ao longo dos anos e nem todas eu superei. Sei do mal que isso me faz e que só uma boa terapia poderá resolver um dia, mas tento lidar com isso sem muita dor. É difícil. Sou rancorosa e guardo comigo coisas que já deveriam ter sido jogadas fora, mas não consegui. Outras, ao contrário, consegui abandonar completamente...e me fez um bem danado, o que mostra que estou mudando isso também.

Nestes anos todos fiz muitos amigos que me ajudaram nessa longa e inconclusa caminhada. Com eles aprendi que meus defeitos podem ser ignorados e não jogados na minha cara o tempo todo. Não é possível alguém ainda acreditar nesse tipo de terapia de choque que diz que quando a gente fica o tempo todo jogando algo na cara do outro este outro supera e acaba mudando. Acredito no amor, na amizade, no companheirismo e principalmente na transparência. Com esses amigos sei que tenho a liberdade de dizer o que eu penso, mesmo que meu pensamento vá de encontro ao deles, e sei que eles vão me dizer o que eu preciso ouvir, mesmo não gostando. É isso que me dá a certeza da amizade, e sem isso não conseguiria prosseguir.

Esta semana estou mortalmente ferida. Das várias pessoas que já cometeram injustiças comigo poucas me tocaram tão profundamente. Talvez isso tenha a ver com o sangue, mas acho que é algo maior que isso. Poucas pessoas na minha vida foram tão presentes, tão importantes e tão amadas. Dos meus quase 37 anos, quase 31 passei ao lado dele. Ajudei a criá-lo e quando tive chance de dar a ele o que eu não tinha tido oportunidade de ter o fiz com todo o desprendimento como o que me faria fazer qualquer coisa pelo meu filho...e talvez seja isso que me deixe ainda mais triste...

Muitos podem dizer que se eu realmente fiz desta maneira não deveria estar agora sofrendo assim...que quem faz com amor não espera nada em troca...não sei se acredito nisso...quando tive que ficar triste com meu filho fiquei, tinha esse direito. Agora acho que tenho também, infelizmente...

Em família de sangue quente mal-entendidos são comuns. Muitos me fizeram ficar chateada por anos, muitos fizeram com que magoasse quem me amava...entre pessoas quase irracionais que são os membros da família Bataglia em crise isso é comum...só que eu escolhi, assim como meu irmão, outro caminho. Um caminho mais árido e longo, mas mais coerente. Um caminho que machuque menos as pessoas, que as respeite mais, que entenda as diferenças...e saber que, mesmo assim, algo pequeno faz com que ele me diga a frase mais dura que já ouvi é horrível. A frase em si já seria horrível, mas pelo contexto é pior ainda. Mostra que mágoas foram se acumulando sem se deixar resolver, raivas contidas em períodos eclodem em outros e tudo vem à tona num maremoto que inunda tudo e tudo destrói.

Esses bons amigos dizem que tudo vai passar, como outras coisas já passaram. Queria que eles estivessem certos, mas percebi que, na verdade, só adianta se elas "passarem" para os dois lados...um amigo me disse uma vez uma frase mais ou menos assim: Há pessoas que nunca perdoam o bem que fazemos a elas. Queria que ele estivesse errado.


3 comentários:

Bárbara disse...

Mude o nome Bataglia por Monte. Ciclos que se repetem, mas que é possível quebrar. Não é fácil porque a maré bate toda em você já que você está se conscientizando e agindo para mudar a sua dinâmica que é a da sua família.
Certas vezes fazer a nossa parte não é o suficiente e isso dói e frustra.
Mas eu continuo achando que a relação de vocês não se resume aos atritos e que por isso não é definitivo. Beijos, Beijos!!!!

Araceli Monteiro disse...

Acho que todo mundo já sentiu uma sensação legal depois de ver um bom filme ou ler um bom texto de que vc acabou de adicionar algo na sua vida, na verdade vc é agora TUDO QUE JÁ ERA + ISSO.
Seu texto me fez sentir assim.

"Há pessoas que nunca perdoam o bem que fazemos a elas."

Obrigado.

Aletheia disse...

Oi Araceli, obrigada pelas palavras, espero que apareça por aqui vez por outra e espero também poder tocá-la com textos mais alegres que este...um abraço!