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20 setembro, 2009

Anticristo - Lars Van Trier, ou o Caos reina


Ainda estou chocada. Sai do cinema ha mais de uma hora e continuo sem saber ao certo explicar o que senti. Terror, provavelmente esta seja a palavra que mais demonstraria o que sinto agora.E medo e angústia e ansiedade e tristeza também. Terror, como gênero cinematográfco, não dá conta desta obra do Triers. O filme mais chocante do ano, sem dúvida, um dos mais chocantes de todos os tempos, também.

Li que ele estava com depressão pelo fracasso de Manderlay e para poder superar tal crise começou a escrever despretenciosamente este roteiro. Imagino se ele decidisse pretenciosamente escrever uma obra-prima. Não gosto de violência barata, não suporto mais filmes que tentam chocar através de cenas meticulosamente planejadas. Me pareceu que nada foi feito de maneira meticulosa no filme, algumas cenas são cortadas abruptamente, outras aparecem e somem, animais falam, a natureza fala, as personagens falam, mas nada parece fazer sentido, e o final do filme mostra como nem tudo precisa fazer sentido. Às vezes, é simplesmente o mal em si mesmo.

Não vou fazer aqui uma resenha do filme, existem várias por ai na net, mas várias coisas me chamaram a atenção. Eu gosto do estilo do Triers, aqui ele mantêm as divisões em capítulos, as imagens em câmera lenta, as iniciais e finais em branco-e-preto com uma bela e angustiante ópera de Handel ao fundo, acompanhando cada cena bem ao estilo do Kubrick. Aliás, algumas tomadas me fizeram lembrar de O Iluminado, um clássico e dos melhores filmes que já vi. A tomada inicial é bela e angustiante ao mesmo tempo, e mesmo sabendo o que aconteceria-está em qualquer resenha- a angústia se dobra às belas imagens dos pingos d'água definidos batendo nos corpos de ambos.

Muita gente vai dizer que a violência no filme é gratuita. Não concordo. Acostumados que estamos com cenas ao estilo de Jogos mortais, não nos incomodamos tanto quando tiros são dados à queima-roupa e corpos são mutilados pelas próprias pessoas. Não nos incomodamos pela inverossimilhança. É tão absurdo que não nos toca tanto, Mas o Anticristo toca, exatamente por sabermos o que pessoas com mentes perturbadas podem fazer. Parece real demais para simplesmente ignorarmos, sairmos do cinema em direção à nossa casa e nos deitarmos e dormirmos. Até o sexo perderia totalmente o sentido nessa hora, duvido que alguém conseguisse sair do cinema e pensar nisso.

Várias pessoas sairam na metade do filme, outras tantas reclamaram do tempo perdido ao final do filme, e eu realmente sinto por elas. De difícil entendimento - o que faz ali um lobo falando que o caos reina? - o menos importante, ao meu ver, é entender. Como em um sonho, as coisas não fazem sentido, ou fazem e nós é que não percebemos - sendo aqui bem freudiana. Então, por que ver um filme como esse, que nos assusta, nos dá medo, mostra o terror que pode existir dentro de cada um? Por que, às vezes, encarar nossos medos seja a melhor maneira de suportá-los...


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