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12 agosto, 2012

sobre meu companheiro mais fiel...



Há 12 anos e alguns meses eu entrei numa loja e comprei uma bolota de pêlos brancos sujos que depois descobri que não era branco, era champagne.  Dirigi até o colégio onde meu filho estudava e ainda me lembro da expressão de alegria e surpresa com a qual ele o viu pela primeira vez. Depois de duas Sophias, um Fidel e m Marx, ele decidiu que daria o nome àquela criaturinha, e eu temi por mais um nome de Pokémon. 
Tchaikóvsky. Vai se chamar Tchaikóvsky, mãe. Eu sorri por dentro tão intensamente que nem perguntei o motivo, medo de ter sido uma alucinação. Me lembrei dos livros infantis sobre as obras de artistas  como Da Vinci e Mozart que havia dado à ele e pensei que este era o motivo. Era, mas não o único. Uma geração de cachorros lindos chamados Beethoven faziam sucesso na TV. Eles tinham os Beethoven, nós teríamos o Tchaikóvsky.
Perdi as contas de quantos pares de sapato eu perdi quando o 10º tinha sido comido. Perdi a paciência com a sujeira e os latidos nas madrugadas, que seguem ainda hoje quando eu chego da rua (parece que alguém está tentando esganá-lo, tão angustiante é o seu grito). Mas nem sei o quanto ganhei nesses anos todos. Impossível medir o amor de qualquer ser humano por outro, mas acho que amor de cachorro já é medida absoluta, independe de qualquer coisa.
Um carro passou por cima dele e quase entrei em pânico ao ver tal cena, só vi um vulto passando correndo e entrando em casa, se escondendo debaixo da cama. Não tive coragem de ver e desesperada pedi ao vizinho que o fizesse por mim. Parte do seu “rosto” havia ficado no asfalto quando o carro passou por cima dele, mas não as rodas, só o fundo. Não consigo imaginar como ele sobreviveu àquilo. Acho que difícil pra ele foi usar aquele abajur enorme em volta do pescoço pra não lamber o ferimento.
Um dia minha mãe veio e, compulsva por limpeza que é, resolveu dar banho no Tchai. Esse banho não acabava nunca e eu fui ver o que era. Ela não se conformava com o fato da sujeira não sair. Tive que explicar que ele não era branco, mas champagne (a cor que o veterinário colocou na carteirinha de vacinação dele). Aquilo não era sujeira. Mas ele ficou uns bons dias com a pele toda vermelha. Hoje ele tem partes cor-de-rosa. Mudou.
Ele engravidou minha pastora alemã e minha pit Bull. Acho que elas colaboraram. Há, esqueci de dizer que aquela bolota branca é um poodle. E não era micro (nem “puro”) como me disse o vendedor (não importava o que ele dizia, eu ia levá-lo de qualquer jeito). Vários e vários filhotes nasceram disso, mas não vi nenhum adulto, seria engraçado ver como ficaram.
Nos mudamos não sei quantas vezes. Numa dessas, o menino que o olhava com olhos doces no primeiro dia e em todos os outros nos deixou. Outras tantas pessoas passaram, ele sempre se entregando naquele amor incompreensível para um humano. Acho que só os cachorros entendem de verdade o amor...
Onde quer que eu vá, ele está ao meu lado. Já não enxerga direito, mas conhece os caminhos e os cheiros. Quando há um novo obstáculo, ele tropeça, mas continua. Há alguns meses meu Nietzsche se foi. Ele procurou no carro quando voltei sozinha pra casa. Adotei um outro cachorrinho para fazer companhia a ele sem ter entendido que em sua velhice ele quer sossego, e não um novo companheiro chato que fique tentando morder seu rosto para fazê-lo brincar. Acho que no fundo a adoção foi muito mais por mim que por ele.
Hoje minha sobrinha fez o que criança faz tão bem, que é falar a verdade, sem amarras nem medos.
... Tia, você vai morrer quando o Tchai morrer né...


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