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07 fevereiro, 2011

sobre o belo e angustiante Cisne Negro


Ontem fui ver Cisne Negro, saudosa dos meus tempos de bailarina...fiquei profundamente impressionada, sai do cinema tensa (adoro isso!)mas, pra variar, não tenho tempo pra escrever...aproveito as belas palavras do querido Ailtão:


http://cinediario.blogspot.com/

Dez anos depois de RÉQUIEM PARA UM SONHO (2000), Darren Aronofsky deixa o espectador novamente saindo do cinema totalmente desnorteado, quase com náuseas. E essa não é a única semelhança do filme de dez anos atrás em relação ao novo e aclamado CISNE NEGRO (2010). De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Aronofsky passou de piada (com FONTE DA VIDA, 2006) a cineasta prestigiado e premiado (com O LUTADOR, 2009). E é com o respeito que ganhou com a bela história de um homem decadente que Aronofsky parte para um mergulho mais ousado, fazendo um terror psicológico a partir da história de uma garota (Natalie Portman) e sua obsessão por conseguir o papel principal para o "O Lago dos Cisnes", de Tchaikovsky.

E assim como a personagem de Ellen Bustyn em RÉQUIEM PARA UM SONHO ficou obcecada para emagrecer e começou a ter alucinações com a ajuda das pílulas receitadas pelo médico, a jovem Nina (Portman) também chega a confundir a realidade com seus piores pesadelos. Uma das coisas que mais incomodam em CISNE NEGRO – e quando uso o verbo 'incomodar' não é para depor contra o filme – é o fato de Nina aparecer sempre em dor, com uma expressão de angústia que parece não ter fim. A perfeição que ela quer chegar através da técnica não é suficiente para que ela alcance o que é requerido para o papel. Principalmente porque ela deve desempenhar duas personas e a que corresponde a seu lado negro requer mais sensualidade e visceralidade, coisa que ela tem dificuldade em obter e ainda vê em sua colega Lily (Mila Kunis), uma rival capaz de tomar o seu tão cobiçado papel.

A personagem de Kunis é um contraponto perfeito a Nina. Enquanto uma é atormentada o tempo todo, a outra é cheia de confiança e sensualidade. E as comparações com CLUBE DA LUTA, de David Fincher, são inevitáveis nesse aspecto, como o espectador pode perceber durante o filme. Outras figuras fortes e de autoridade são responsáveis por potencializar a personalidade frágil de Nina: a mãe, vivida por Barbara Hershey, que quer que ela continue sendo uma criança, cheia de bichos de pelúcia no quarto; e o diretor da peça (Vincent Cassel), um personagem dúbio, que pode ser visto como alguém que está ajudando Nina a se tornar mais forte e mais independente, mas também aquele sujeito que quer se aproveitar da ingenuidade da moça. Ou as duas coisas, pois o preto e o branco são sempre faces da mesma moeda.

Por incrível que pareça, alguns momentos do filme lembram bastante A MOSCA, de David Cronenberg. E não me refiro apenas às cenas dos ferimentos que surgem em suas costas e dedos. E como um filme não é feito apenas de diretores e elenco, ajudando a tornar CISNE NEGRO uma experiência sensorial ainda mais perturbadora, o autor da trilha sonora, Clint Mansel (o mesmo da excepcional trilha de RÉQUIEM PARA UM SONHO), faz uma música perfeita para o que se pretende o filme: fazer com que nós entremos na mente perturbada da protagonista. E para isso ele usa muitas vezes variações da própria obra de Tchaikovsky, de uma maneira com que se torne uma espécie de negativo da música. Para completar, a pequena participação de uma estranha Winona Ryder ajuda a compor este quadro de um mundo dominado pela neurose e pela paranoia. E o mais estranho de tudo é que o efeito disso numa obra de arte ainda pode gerar algo belo.

CISNE NEGRO concorre ao Oscar em seis categorias: filme, diretor, atriz (Natalie Portman), roteiro original, fotografia e edição. O belo trabalho de Clint Mansel foi desclassificado por se basear na obra de Tchaikovsky. Provavelmente o único prêmio que deve levar seja o de melhor atriz para Portman. Muito justo para tanto sacrifício e perfeição na composição.

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