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06 setembro, 2008

Besteirol corinthiano

JOSÉ GERALDO COUTO

"United Colors of Corinthians"


Idéia de vender espaço para fotos de torcedores transforma camisa do time em revista "Caras" de pano

A IMAGINAÇÃO dos cartolas brasileiros não tem limites, pelo menos quando se trata de levantar dinheiro rápido à custa da paixão do torcedor.
A mais nova idéia genial, daquelas que fazem uma lampadinha acender acima da cabeça do sujeito, é da diretoria corintiana: imprimir fotos de torcedores nas camisas usadas pelos jogadores na partida que selar a volta do clube à Série A, mediante a módica quantia de R$ 1.000 por cabeça.
De acordo com os autores da idéia, cada camisa dos dez titulares da linha (o goleiro, por algum motivo, está excluído) teria espaço para 400 fotos. Com isso, o clube arrecadaria R$ 4 milhões em 90 minutos. Pode ser que eu tenha entendido tudo errado, mas vejo alguns problemas na concretização da proposta.
Primeiro, num torneio de pontos corridos, é impossível saber de antemão em que partida um clube confirmará sua classificação, uma vez que isso depende de uma série de resultados de outros jogos da rodada.
A não ser que se combine com todos os clubes envolvidos, a CBF, o comitê de arbitragem etc. -o que, afinal, talvez não seja tão difícil assim.
Mas há também a prosaica questão material, métrica -ou antes, milimétrica. Por mais que a camisa de um atleta possa ser ampla, ela tem uma superfície limitada. Para que caibam nela 400 caras de torcedores, essas terão que ser minúsculas fotos 3x4, mesmo porque tem de sobrar espaço para o número do jogador, o distintivo do clube, o logotipo do fornecedor de material esportivo e o reluzente nome do patrocinador.
Outra coisa: com tantas carinhas impressas na camisa, dificilmente ela terá uma cor facilmente discernível, como o preto e o branco característicos do time. E cada camisa, trazendo impresso um conjunto diferente de retratos (e portanto de indivíduos, com sua diversidade étnica e cromática), tenderá a ter uma cor diferente das outras.
Você consegue imaginar a confusão carnavalesca de um elenco vestido com semelhante "desuniforme"? No mínimo vai parecer obra do Bispo do Rosário. Ou anúncio da série "United Colors of Benetton".
Os autores da idéia mencionam uma iniciativa semelhante que teria sido adotada pela equipe de F-1 Honda. Tudo bem, mas um piloto não tem que se vestir de modo a se igualar a seus companheiros de equipe e a se diferenciar dos rivais.
Mas deixemos de lado a miudeza dos entraves práticos. O que esse plano genial, no fundo, significa? Para mim, que os dirigentes estão apelando mais à vaidade do que propriamente à fidelidade do torcedor.
Na sociedade da imagem e da superexposição pessoal em que vivemos, faz sentido que uns endinheirados queiram estampar seus rostinhos numa camisa, digamos, histórica.
Os torcedores mais fiéis provavelmente prefeririam usar os R$ 1.000, se os tivessem, comprando ingressos para todos os jogos do Corinthians na competição, ou para viajar com o time para um importante confronto fora de casa. (Isso tudo, claro, depois de comprar comida, pagar aluguel, passe de ônibus etc.) Mas talvez eu esteja jurassicamente enganado, falando sozinho num mundo em que faz todo o sentido a transformação da camisa do Corinthians numa espécie de edição têxtil da revista "Caras".

jgcouto@uol.com.br

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