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24 junho, 2011

sobre as agruras no Caminho


Ela ia pelo caminho tortuoso e escuro rumo ao tudo, mesmo correndo o risco de chegar ao nada. Seus pés doíam e seus olhos ardiam pela clareza do verão que impunha seus domínios no agreste percurso, dourando a pele pálida de nascença e sentimento. Pálida era também sua voz, antes forte, antes grave, agora só leve sussurro. A cabeça baixa parecia carregar em si toda a grandeza do mundo, tal qual Atlas pelas duras penas impostas por Zeus, mas ao contrário do titã, não havia nela nenhuma força desproporcional, talvez força nenhuma além daquela que a fazia arrastar pernas e pés através dos pedregulhos no chão...

As lágrimas que caiam secavam rapidamente diante da cálida força do tempo. Por cima destas secas surgiam outras, úmidas e grossas, que rolavam sem se importar por embotar sua visão demente de silêncios, tal qual nenúfares de Monet em sua embaçada perfeição. Não sentia dor, dor não sentia, simplesmente uma leveza torpe que parecia perfil da morte a rondar seu corpo nu e alvo, misto de reflexos e angústias...daquilo que fora, quase nada restara, a não ser o olhar distante no tempo que era, segundo ela, tempo extenso, res extensa, completa, contra a res cogitans que se perdera no fundo da alma que se partira...

Ouvia o vento soprando pétalas secas saídas das páginas daquele livro antigo, de outros tempos, dos tempos sem dor, ou seria do tempo de outras dores, que como as pétalas um dia simplesmente desapareciam desfeitas pelo tempo e pelo vento que soprava e com ele levava os pequenos fragmentos daquilo que fora, um dia pétala rubra, de rosa viva.

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