A seleção para a Berlinale 2009 de um filme brasileiro, cuja realização custou apenas 80 mil reais constitui, de fato, uma vingança do cinema independente nacional contra a ditadura do patrocínio - na feliz definição de Neville D´Almeida - instaurada pelas leis de incentivo à cultura vigentes.
O longa do gaúcho Paulo Pons, sugestivamente denominado “Vingança”, passaria despercebido não fosse a surpreendente iniciativa do Festival de Berlim, indubitavelmente um dos mais importantes de todo o mundo.
Rompe-se desta forma um paradigma basilar: é necessário e inevitável que o conceito de baixo orçamento seja reformulado urgentemente, no que concerne a produções do gênero, visando a futuros editais da Ancine e do MinC, bem como de todos os demais órgãos públicos atinentes à cultura.
Com “Vingança” como parâmetro, uma dúzia de filmes pode ser produzida com um milhão de reais, ao invés de apenas um.
Assim, torna-se premente e indispensável a criação de uma categoria de filmes de baixíssimo orçamento, cuja verba seja diretamente concedida pelo poder público, abolida a mediação do patrocinador subsidiado, figura caricata e surrealista típica de nossas plagas, um patente paradoxo, um modelo teratológico e claudicante do bestialógico institucional do Brasil, abominação suscitada pelo cínico emprego do princípio de renúncia fiscal no autêntico paraíso dos escroques em que (sobre)vivemos, onde o caixa 2 é a norma oculta e a burguesia só paga os tributos que bem
entende
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