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30 novembro, 2008

14 novembro, 2008

Dialética

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...

(Vinícius de Moraes)

12 novembro, 2008

Osesp em Fortaleza

Quando vim morar aqui, senti falta de certos tipos de espetáculos, como os de música erudita. Ao comentar tal falto com algumas pessoas, ouvi a ridícula frase: Ahh,não adianta trazer, cearense gosta mesmo é de forró...

Sempre achei que isso era um absurdo, e que os governantes se aproveitavam deste senso comum para não investir em espetáculos do gênero. Domingo, minhas certezas foram reforçadas. Lindo demais chegar no Parque do Cocó e encontrá-lo completamente lotado.

Que os governantes percebam isso e parem de achar que cearense só quer saber mesmo é de forró...

06 novembro, 2008

sobre Geraldo Vandré

É um mundo estranho esse nosso. Não vivi os turbulentos anos 60, mas me sinto como se tivesse vivido. 1968 é realmente o ano que mudou nossas vidas - sim, não apenas daqueles que já eram nascidos na época - e eu não era - mas de todas as pessoas que vieram depois.

"Pra não dizer que não falei das flores" é uma das músicas mais importantes da minha vida, acredito que foi ela que me acordou do "sono dogmático" (parodiando Kant). E, apesar disso, não conheço o Geraldo Vandré. Claro, sei o básico. Paraibano, foi pro Rio, fez direito e foi líder estudantil. Ganhou um festival com Disparada - interpretado por Jair Rodrigues - e ficou em segundo com a música que todo mundo conhece como "caminhando e cantando e seguindo a canção..." Com o AI5 exilou-se, primeiro no Chile e depois na França. Voltou em 1973, ano em que nasci, e desde então mora em São Paulo.

Eu, e acredito que a maioria absoluta da população, não o reconheceria na rua.Talvez nem se estivesse num cartaz ou numa foto, ou na televisão. Sua imagem é menos conhecida que sua música, o que seria muito interessante num mundo em que bundas e rostinhos botocados são mais importantes que o caráter e as palavras. Mas nesse caso, não.

Ele almoçava na rua Xavier de Toledo. Foi lá que tive meu segundo emprego, e lembro que vagava pela hora do almoço, andando, olhando as coisas do mundo, entrando na Biblioteca Mario de Andrade ou lendo um livro numa das inúmeras praças da região do Anhangabaú. Parece que ele fazia o mesmo. Devo ter passado por ele várias vezes. Se fosse o Chico, o Gil ou o Caetano, eu teria reconhecido. Mas não o Vandré. Por que?

Provavelmente porque ele isolou-se em seu apartamento antigo abarrotado de livros. Não foi fazer especial na Rede Globo, ou vendeu discos com histórias de amor. É um pouco duro fazer esse tipo de constatação, mas o que vende mais sempre foi e sempre será as músicas de amor. Ou de dor, as de cotovelo, mas nunca as de guerra, de revolução, de oposição real a um mundo que oprime e mata as pessoas. As pessoas que escolheram seguir adiante na luta, mesmo quando ela não parecia mais fazer sentido, acabaram isoladas do mundo. Vandré fez isso propositadamente.

Dizem que ele é louco, outros que é depressivo. Não importa. Importa saber que, num mundo onde as idéias estão valendo menos que as aparências, seria importante reconhecer o Vandré na rua. E sorrir pra ele, aquele sorriso de cumplicidade que as outras pessoas não entenderiam. Um sorriso de agradecimento pela sua coerência.