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04 junho, 2012

sobre angústias outras...

vagou entre os pés das pessoas em seus sonos etílicos com um misto de esperança em encontrar alguém acordado e medo de ser visto encarando caso um deles acordasse. Sua angústia tinha nome e sobrenome, tinha cor, tinha sorriso e choro, tinha amigos, tinha sonhos, e não é possível se esconder de uma angústia assim tão definida, tão presentificada. Mas como a maioria das angústias, essa não vinha sozinha, transmutava-se em outras ainda maiores e mais amargas, em lembranças tristes ofuscadas constantemente pelo álcool ou pelo trabalho, mas ali não havia nem um, nem o outro. Angústia, angor, um estreitamento, um apertamento que dói. Lembrava que saudade não é só de uma pessoa, mas dos sonhos sonhados juntos, dos amigos compartilhados, das vitórias iniciais que poderiam ser ainda maiores, saudade do que não se viveu... Pensava em tudo o que fazia sabendo que não devia fazer, mas quem é que determina o que se deve ou não fazer? Pensou que as convenções que criticam certos atos são ridículas e deve-se sempre rir delas, e que a melhor maneira de se rebelar é agindo exatamente assim, como filho rebelde que faz exatamente o que os pais não querem somente pelo prazer edipiano de contestação. Até que um dia se começa a ver que o problema não está nas convenções, mas em tentar descobrir o que é certo ou errado em função dos desejos mais amplos, mais profundos, mais verdadeiros, mais íntimos. Que o que alguém define como certo pode não ser o certo pra você, e que por isso mesmo não há como definir em regra o que se deve esperar de sí mesmo. Que cada ato tem uma reação e que não é possível fugir de certas perdas. Que o que muitos chamam de liberdade pode ser a maior das prisões. Ser livre não é fazer qualquer coisa, mas saber escolher aquilo que se deve fazer, e esse dever não está naquilo que seres pudicos determinam, mas em entender que certas ações podem ampliar ou reduzir suas chances de ser feliz...Se algo que se faz, faz bem momentaneamente, mas impede de vivenciar outras situações maiores e mais prazerosas, esse tipo de prazer acaba por impedir mesmo um grande prazer real. Mas como saber? Como fazer? Com quais prazeres se escolhe ficar? Por que não é possível ter todos ao mesmo tempo? Sim, não é justo, melhor seria se fosse possível sempre ter tudo (será?), mas nem sempre é possível dançar a noite toda e ainda ter alguém pra brincar e dormir junto depois...O bom da angústia é que chega um momento em que esse apertamento devanece, começa a afrouxar, para novos sonhos começarem a se formar, como tinta em tela que, uma vez sobreposta, engole o branco como o vazio foi engolido, aos poucos, e nem sempre, nem para sempre, mas com uma pequena força que cresce e toma seu lugar....

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