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05 julho, 2012

sobre a escatologia do ser


o dia passou intranquilo e rápido demais para dar ao tempo o tempo preciso para diminuir as mágoas que o próprio tempo gerou. sabia-se doído e por isso decidiu esconder-se no abrigo de sua solidão para recompor os movimentos que sobrepujavam sua alma também intranquila, caída e torta, levando-o como pluma ao vento e deixando-o cair em qualquer esquina como parte destituída de sentido. Buscou na lua plena um toque de sensibilidade que o enviasse para além da vida que o impeliria à morte, mas o cruel dessa vida levou-o de volta ao chão que mantinha seu corpo acima do limbo, apesar de todo o seu ser já há muito estar lançado à escatologia própria do ser que de humano pouco ainda tinha, tão desprovido daquilo que em nós nos faz enganosamente maior. Sentiu frio com o vento que vinha do norte e pendeu para o lado como galho torcido prestes a quebrar. Deteve-se um momento antes de deixar-se levar pela ânsia que o invadia e tomado por um instante de lucidez jogou-se no chão como quem se defende de um ataque aéreo. Mas em instantes percebeu que para o ataque a que estava prestes a sofrer, nenhum tipo de defesa seria possível. Vencido, dobrou-se como os sinos que avisam que a tragédia chegou.

sobre pouco, quase nada, do muito que poderia ser

uma onda de desânimo foi invadindo muito lentamente sua alma como sol que se põe e só o que se percebe são as mudanças nas nuances coloridas no céu.Olhava em volta como se estivesse em um mundo paralelo, vendo os gestos, ouvindo as vozes mas não se sentindo parte deles, como em câmera lenta em outra dimensão. Tentava se desvencilhar daquela angústia mas impedido que estava, deixava-se pender de um lado ao outro em busca do copo barato com a bebida agora quente. Como em sonho, buscava se desvencilhar das cordas que o amarravam mesmo sabendo que não havia corda alguma além da desesperança. Por muito pouco apegava-se, pelo mesmo pouco era capaz de voar para outra dimensão como águia faminta que desdenha até os mais bravios perigos pelo simples fato de saber-se capaz de voar mais alto sem deixar-se abater. Sabia-se vencido, mas mesmo assim voou.